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Comentario-reseña del libro 'médicos represaliados..'
'DIARIO DE NOTICIAS' (OPORTO) 8-4-2003 , a cargo de José Viale Mountiho


Cem médicos galegos vítimas do franquismo
VIALE MOUTINHO


Toda a tensão provocada pela Guerra Civil de Espanha, sobretudo nas áreas de repressão franquista, que se foi alargando até comportar todo o Estado espanhol, teve um pequeno período de branqueamento durante a chamada Transição. Transição do franquismo à democracia. Esse período seria aproveitado por alguns próceres do regime acabado para a destruição maciça de documentação comprometedora. Isto está documentado. Porém, várias vozes se ergueram então advogando não só arquivos especializados sobre o franquismo como o incrementar de estudos sobre a «longa noite de pedra» que ele representou. Carlos Castilla de Pino recorda-o no seu prefácio ao livro Médicos Ourensáns Represaliados na Guerra Civil e na Posguerra, da autoria do psiquiatra David Simón Lorda, que com ele obteve o Prémio Cabaleiro Goás.

Simón Lorda procedeu a uma cuidada investigação, na qual fez o levantamento de todos os médicos da província galega de Ourense a partir de 1936 até ao período seguinte ao final oficial do conflito, anos 40. Classificou-os politicamente, através de dados que obteve de diversas formas, e fez reconstituições biográficas. E o resultado foi tremendo, para lá do facto de o próprio autor entender não ter esgotado as possibilidades da sua investigação. Assim, o censo de represaliados ultrapassou a centena em toda a Galiza, dos quais uns trinta foram fuzilados e, entre os outros, uns conseguiram fugir aos seus perseguidores, acabando no exílio, sofrendo pesadas multas, outros demitidos das suas funções, outros presos, ainda outros impedidos de exercer mesmo por sua conta. David Simón, em dado passo do seu estudo chama a atenção do leitor para uma observação do prof. Garcia Guerra, uma autoridade em História da Medicina, que dizia que esta é um ramo da História, pelo que quem escrever na área deve fazê-lo a partir dela, para um melhor conhecimento da realidade histórica em que está inserida. David Simón foi um discípulo à altura desta lição.

O livro deste psiquiatra ourensano tem numerosas imagens referentes aos represaliados e fac-símiles da documentação probatória dos actos discriminatórios do franquio opressor. Ora, este estudo deverá ser entendido como um capítulo dentro da comercialização da análise do conflito. Só com a concretização, tão ampla quanto possível, dos reflexos da contenda por regiões e por blocos profissionais será possível uma visão muito mais clara do que se passou. E a Galiza, pelas suas características especiais de ter sido imediatamente ocupada pelo franquio, praticamente não foi cenário de guerra, mas apenas de repressão. Mesmo assim, foi o espaço da geografia espanhola que teve guerrilheiros em acção até mais tarde. E não será por acaso que recentemente a espingarda do guerrilheiro forcejas passou a ocupar, por direito próprio, um lugar entre quanto está exposto no Museu Militar da Coronha!

Directamente a Portugal interessa aqui um médico em Montalegre cujo nome ainda é desconhecido, ainda que muito investigado! É do ano de 1946, quando falangistas de Verín, Guarda Civil, GNR e tropa portuguesa bombardearam um pretenso grupo guerrilheiro em Cambedo, no Barroso. Este médico, refugiado em terra portuguesa, foi entregue aos espanhóis, que de imediato o fuzilaram. Dele apenas se sabe que era um médico galeguista e se refugiara na aldeia de Negrões. E que também fique a memória do fuzilado Carlos Reino Caamaño, alcaide republicano na vizinha Verín.